Saturday, July 12, 2008

O Globo Porque os recifes são importantes

SERVIÇOS: Os recifes de corais prestam numerosos serviços à Humanidade. Eles são importantes para a indústria do turismo. Também são o lugar de reprodução e alimentação de muitos peixes, moluscos e crustáceos de valor comercial ou espécies em extinção, caso de algumas baleias. Estima-se em US$30 bilhões o valor dos serviços prestados pelos recifes de corais a cada ano.

PROTEÇÃO: Os recifes coralinos protegem muitas regiões costeiras do impacto de tempestades, como furacões, e até de tsunamis. Na Grande Tsunami do Índico, em 26 de dezembro de 2004, localidades protegidas por recifes de corais em Sri Lanka, Indonésia e Tailândia sofreram um impacto bem menor das ondas gigantes do aquelas expostas à fúria do oceano.

O Globo Abrolhos pode ter o dobro do tamanho
Descoberta em águas profundas uma extensa área rica em biodiversidade
Carlos Albuquerque

A maior cadeia de recifes de corais do Atlântico Sul pode ser ainda maior do que se imagina. Pesquisadores brasileiros anunciaram ontem, durante o Simpósio Internacional dos Recifes de Coral , na Flórida, a descoberta de uma grande área no Banco de Abrolhos, no sul da Bahia. Localizado em águas profundas da região - que inclui o Parque Nacional de Abrolhos - o ambiente aponta para uma rica biodiversidade ainda inexplorada. A revelação, dizem os cientistas, reforça a importância de políticas de conservação e manejo no local, que tem 46 mil quilômetros quadrados e abriga várias espécies, algumas ameaçadas de extinção.

- O que descobrimos é que Abrolhos pode ter o dobro do tamanho até então conhecido - explica o biólogo Rodrigo Leão de Moura, da Conservação Internacional (CI), um dos autores da pesquisa, desenvolvida em conjunto com a Universidade Federal do Espírito Santo e Universidade Federal da Bahia. - Embora ainda falte explorar essa nova área, sua descoberta significa que devemos reforçar a conservação da região e promover o seu uso de forma sustentável.

O trabalho de investigação dessa área, em ambientes com profundidades que variam entre 20 e 70 metros, começou em 2000, graças às informações dadas por pescadores que atuam na região.

- Começamos a perceber que os peixes estavam sendo trazidos de regiões que ainda não se tinha noticia e que não estavam mapeadas - revela o pesquisador.

Até então, lembra Moura, a maior parte das áreas de recifes mapeadas em Abrolhos ficava em águas rasas porque representavam perigo para a navegação.

- Depois desses avisos dos pescadores, começamos a fazer explorações preliminares na região. Fizemos alguns mergulhos e constatamos que os recifes existiam mesmo. E percebemos imediatamente que havia muita vida marinha ali. Foi surpreendente. Em alguns deles, encontramos trinta vezes mais biomassa do que em alguns recifes costeiros mais conhecidos.

Nos quatro anos seguintes de pesquisa, os cientistas trabalharam com navios equipados com sonares de varredura lateral.

- Esse sonar emite um feixe lateral de sons. Depois, ele mede o retorno desses sons. Como cada tipo de estrutura de recifes traz um retorno diferente do som, ele consegue fazer um desenho a partir de cada uma dessas ondas sonoras. É um mecanismo semelhante ao usado pelos golfinhos.

De acordo com o pesquisador, embora o estudo ainda esteja numa fase inicial, um fato importante chama a atenção.

- A tecnologia existe para os dois lados. Os pescadores também contam com recursos, como o GPS, que permitem que eles marquem uma área e voltem a ela seguidamente. Por isso, devemos agora não apenas estudar a biodiversidade dessa área, mas conciliar a sua conservação com o seu uso sustentável pela indústria pesqueira. É essa a equação que temos pela frente.
O Globo Marcados para morrer
Um terço dos recifes de corais do planeta está ameaçado de extinção

Afetados por mudanças climáticas, poluição e pesca predatória, muitos corais estão em perigo. Um terço dos recifes de corais de todo o planeta está ameaçado de extinção. A região do Caribe é a que apresenta a mais alta concentração de corais ameaçados. É o que revela o primeiro levantamento global para determinar o seu status de conservação. Os resultados do estudo foram publicados hoje pela revista "Science".

- As descobertas são desconcertantes - afirmou Kent Carpenter, principal autor do estudo e membro do Programa de Espécies Ameaçadas da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). - Quando morre um coral, morrem também outros animais que dependem dos recifes de coral para o seu alimento e abrigo. Isso pode levar ao colapso de ecossistemas inteiros.

Construídos ao longo de milhões de anos, os recifes de coral são o habitat de mais de 25% das espécies marinhas, configurando-se como o ecossistema marinho com maior diversidade biológica. Os corais constroem recifes em águas rasas tropicais e subtropicais e têm-se mostrado altamente sensíveis a mudanças em seus ambientes. Milhões de pessoas em todo o planeta dependem desses ecossistemas para o seu sustento, seja através da pesca ou do turismo.

Os pesquisadores apontaram como principais ameaças aos corais o aquecimento global e alterações locais decorrentes da pesca predatória; o declínio na qualidade das águas por causa da poluição e da ocupação desenfreada da zona costeira.

As mudanças climáticas, lembram os pesquisadores, aumentam a temperatura da água e a intensidade da radiação solar, o que leva à descoloração dos corais e a doenças que, freqüentemente, acarretam na mortalidade em massa desses corais.

- Esses resultados mostram que os corais que formam recifes enfrentam uma ameaça de extinção mais grave do que a de todos os grupos terrestres, exceto anfíbios, e são o grupo mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas - diz Roger McManus, vice-presidente de programas marinhos da Conservação Internacional.

Acidez da água prejudica formação dos corais
Os pesquisadores prevêem que a acidificação dos oceanos é outra séria ameaça aos recifes de coral. Como os oceanos absorvem volumes cada vez maiores de dióxido de carbono da atmosfera, a acidez da água aumenta e o pH diminui, o que prejudica gravemente a capacidade de os corais construírem seus esqueletos, que formam as fundações dos recifes.

- Ou reduzimos nossas emissões de CO2 agora ou muitos corais serão perdidos para sempre - alerta Julia Marton-Lefèvre, diretora-geral da IUCN. - A melhoria da qualidade das águas, educação em nível global e recursos adequados destinados a práticas locais de conservação são também fundamentais para proteger as fundações dos valiosos ecossistemas que existem nos recifes de corais.

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