Sunday, May 25, 2008

Conselho de defesa fica para depois
Governo da Colômbia rejeita proposta do presidente Lula e justifica ações extraterritoriais. Grupo de trabalho tem a tarefa de elaborar novo projeto para ser apresentado em três meses
A resistência do presidente colombiano, Álvaro Uribe, impediu que a proposta de criação do Conselho de Defesa Sul-Americano — preparada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva — fosse aprovada na reunião de ontem. O Uruguai também apresentou reservas. O vice-presidente Rodolfo Nin Novoa indicou que aceitaria endossar o documento com ressalvas relativas ao uso e à proteção do mar territorial. A solução, encontrada pela chefe de Estado do Chile, Michelle Bachelet, foi a formação de um grupo de trabalho, reunindo representantes dos ministros da Defesa dos 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), para preparar um novo projeto. O presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, propôs um prazo de 90 dias para a tarefa. Ao fim desse período, o projeto final será apresentado aos presidentes em um novo encontro.
A proposta foi encaminhada em discurso por Lula. Para ele, o organismo poderia coordenar as ações para a construção da paz no continente. Caberia ao conselho preservar a integridade territorial e impedir a ingerência externa. Além disso, coordenaria os requerimentos das Forças Armadas dos 12 países, o que viabilizaria a criação de uma indústria militar. Na conferência de imprensa no Palácio do Itamaraty, ao lado do presidente da Bolívia, Evo Morales, e de Bachelet, o mandatário brasileiro negou que a idéia tenha fracassado. “Nosso objetivo era apenas abrir a primeira discussão sobre o tema”, explicou. “Temos vários pontos para levar em consideração, como a questão da Amazônia, do Pacífico, do Atlântico e do Mar do Caribe. Precisamos ter nosso setor de defesa pensando conjuntamente. Isso só será possível se criarmos o instrumento, que é o conselho”, explicou.
Bachelet saiu em seu apoio: “A proposta teria fracassado se não tivesse nem entrado na pauta da reunião de cúpula, ao contrário do ocorreu. Parece-me positivo que países da Unasul tenham projetos de cooperação nessa área. Vamos combinar as capacidades. Há elementos que cada um considera como oportunos. Queremos fechar o grupo de trabalho com uma tarefa concreta”. Ela também argumentou de que o órgão terá condições de normatizar ações para a região, como a intervenção militar no Haiti.
Recusa
Antes do almoço dos chefes de Estado, no Itamaraty, a Chancelaria da Colômbia divulgou nota explicando a recusa. O documento alegava que o país vive sob a ameaça do terrorismo e gozaria de justificativa para ações extraterritoriais — a desculpa contraria o estatuto da nova organização. Lula e Uribe se encontraram após confraternização. A reunião não contou com a presença do presidente do Equador, Rafael Correa (leia mais na página 30), que voltou para seu país no início da tarde de ontem.
A posição do governo brasileiro é de que será possível constituir o novo organismo mesmo sem a presença da Colômbia. Na chegada ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que realizou um tour pela América Latina defendendo a criação do conselho, ressaltou: “Temos 11 a favor e um contra. Isso não inviabiliza a formação do organismo.” Um assessor do chanceler Celso Amorim considerou o resultado bastante proveitoso: “Aqui no Itamaraty nós achávamos que a proposta era audaciosa demais para ser formalizada hoje. A idéia surgiu há apenas dois meses e precisa de um tempo de maturação. Com um prazo para realização do trabalho, será, com toda certeza, aprovada num futuro relativamente curto”, avaliou.
Correio Braziliense

Condenação à guerrilha
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, fez ontem um apelo para que a recém-criada União das Nações Sul-Americanas (Unasul) não conceda status político às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e considerem a guerrilha um grupo terrorista. Ele justificou a negativa de Bogotá em criar o Conselho de Defesa Sul-Americano, uma idéia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Temos um problema de terrorismo muito grave, que gerou dificuldades políticas com governos de povos irmãos”. E disse esperar que a América do Sul seja um continente onde não seja permitido a ninguém romper a regra democrática. “Queremos que todos da Unasul colaborem para capturar os terroristas que afetem a qualquer povo irmão”, apelou. “O continente deve atrever-se a qualificar como terrorista todos os grupos violentos que atentarem contra a democracia”, acrescentou.
De acordo com o líder colombiano, os “terroristas” das Farc têm alta capacidade de recrutamento. “Na Colômbia, chegamos à quarta geração de guerrilheiros. As Farc têm sido um grupo sanguinário, terrorista, que assassina mulheres grávidas e crianças, explode carros-bomba e atenta contra a democracia”, reforçou. Questionado se a inclusão das Farc na lista dos grupos terroristas seria uma condição para a adesão de Bogotá ao Conselho de Defesa Sul-Americano, Uribe respondeu que esse é “um ponto de reflexão”.
Correio Braziliense

Cúpula da UNASUL Vizinhos em alta tensão
Rafael Correa, presidente do Equador, afirma que relações com Colômbia são “deploráveis”. Álvaro Uribe rebate, recomenda ao colega tratar temas frente a frente e ataca a Venezuela
Se depender das reações de seus presidentes, Equador e Colômbia parecem muito distantes da paz. Rafael Correa e Álvaro Uribe não se cumprimentaram, evitaram trocar olhares e se sentaram em lados opostos da sala onde foi assinado o Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. O Correio apurou que o governo do Equador recusará qualquer contato com Bogotá, enquanto Uribe não encerrar sua “campanha militar”. Nos bastidores, quase nada se fala sobre o conflito. A declaração mais contundente partiu do próprio Correa, que considerou “deploráveis” e “críticas” as relações entre os dois países. A crise regional foi deflagrada em 1º de março, quando tropas de Bogotá bombardearam um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano e mataram Raúl Reyes, número dois e porta-voz da guerrilha esquerdista.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou contornar o mal-estar e tomou café da manhã com Correa e Uribe no anexo do Meliá Brasília Hotel. No final da tarde, reuniu-se a sós com Uribe. Mas o clima tenso ficou evidente pela manhã, pouco antes da assinatura do Tratado Constitutivo da Unasul. O chefe de Estado boliviano, Evo Morales, enumerava os princípios do bloco. Quando citou a paz e conceituou-a como “não mais confrontação e não mais guerra por interesses mesquinhos”, Uribe cruzou os braços e cerrou os lábios.
Em entrevista à imprensa, ainda no Centro de Convenções, Correa não poupou ironia e até recomendou que Uribe fosse investigado. “As relações com os colombianos têm sido fraternas, pois nossos povos são irmãos. Com o governo da Colômbia, pelos motivos que todos conhecem, há uma situação muito deplorável. Há um ponto morto, uma situação crítica, eu diria... Todos desejamos que as relações bilaterais sejam reatadas o mais rápido possível. Mas com justiça, com dignidade”, declarou, antes de denunciar uma campanha midiática por parte de Bogotá. Ele condicionou a retomada das relações diplomáticas com Quito ao “fim dos ataques”.
Ao falar sobre a investigação do computador de Reyes que supostamente atestaria a ligação das Farc com o Equador e a Venezuela, Correa apelou para a ironia. “Eu recomendaria que investigassem a narcopolítica e a parapolítica que, lamentavelmente, existem na Colômbia”, disse. A denúncia de que Bogotá teria manipulado arquivos encontrados no disco rígido partiu do próprio chefe de Estado equatoriano. Alguns documentos comprovariam o envolvimento de Caracas e Quito com as Farc.
Em defesa da transparência
Questionado pelo Correio sobre as críticas do Equador, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, saudou com afeto o povo equatoriano, mas não se furtou em dar um conselho ao chefe de Estado do país vizinho. “É preciso aproveitar essas reuniões para se dizer tudo o que é preciso. E não silenciar e depois falar essas coisas à imprensa”, atacou, admitindo que mostrou-se disposto a debater todos os assuntos durante a cúpula de ontem, em Brasília. Segundo Uribe, é muito melhor tratar os temas “frente a frente”, tornando possível a abertura de um espaço à discussão.
Bem-humorado e solícito às perguntas da imprensa, o líder colombiano também garantiu que as relações com a Venezuela não estão abaladas. “Hoje pela manhã cumprimentei o presidente Chávez e saudei sua filha com todo o afeto. Disse a ela que sua geração tem de viver feliz e livre”, contou Uribe, referindo-se à ameaça “terrorista” que paira sobre crianças e jovens da Colômbia. Sem citar nomes e em uma velada acusação contra Caracas, o presidente lembrou que “neste continente, alguns pensam que as Farc são um grupo político”. De acordo com Uribe, Lula apoiou a segurança da nação colombiana e disse várias vezes que não faria reuniões com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Chávez
Mais tarde, Chávez confirmou ter conversado com Uribe durante a cúpula. “Estive com Uribe, e nos demos as mãos, bem estendidas. Eu disse a ele: ‘Aqui está a mão, presidente, aqui está o coração’”, disse o venezuelano. Em entrevista exclusiva ao Correio, Andrés Izarra, ministro das Comunicações da Venezuela, comentou que o conflito entre Equador e Colômbia tem como causa a política belicista de Bogotá. E admitiu que o tom da crise foi elevado com a denúncia envolvendo os computadores apreendidos no acampamento das Farc. “Estão armando um aparelhamento midiático em torno do tema. O Equador já chegou a assumir que o tema seria usado pelos colombianos para estragar as relações entre os dois países”, acusou.
À saída do Itamaraty, Marco Aurélio Garcia — assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais — pôs panos quentes na crise. Ele assegurou que o conflito pode ser resolvidos pelos próprios presidentes. “O clima entre os dois países estava desanuviado, melhorou bastante. A prova é que o Tratado Constitutivo da Unasul foi assinado sem nenhum problema”, assegurou. Garcia considerou “normal e civilizada” a relação entre os governantes e revelou que, nos bastidores, Chávez e Uribe conversaram de modo descontraído por 15 minutos. “O tempo ajuda as coisas”, concluiu. (RC)
Ataque às farc causou crise
Raúl Reyes, número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), encontrou a morte em território equatoriano, no último dia 1º de março. Um bombardeio da aviação colombiana detonou uma das mais graves crises dos últimos tempos na América do Sul. Mesmo sem estar diretamente envolvido no conflito, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, reagiu com indignação à ofensiva, ordenou o fechamento de sua embaixada em Bogotá e mobilizou 10 batalhões militares nas fronteiras entre os dois países. Por sua vez, o chefe de Estado do Equador, Rafael Correa, anunciou a retirada de seu embaixador na Colômbia, Francisco Suéscum, e expulsou o embaixador da Colômbia em Quito, Carlos Holguín.
O governo Uribe acusou Chávez de financiar a insurgência esquerdista do país vizinho. E culpou Quito por ter mantido contatos com Reyes, ao apresentar supostas provas confiscadas em computadores apreendidos no acampamento das Farc. Entre elas, uma carta escrita em 14 de fevereiro pelo comandante Iván Márquez, membro da cúpula da guerrilha, que cita o “financiamento de Caracas às Farc por US$ 300 milhões”. Além de Venezuela, Equador e Colômbia moveram tropas para a fronteira, e a crise ganhou uma escalada armamentista que espalhou tensão pela América do Sul. Quito acusou Bogotá de adulterar os arquivos do computador de Reyes, mas uma perícia realizada pela Interpol negou modificações. Desde então, as relações entre os países permanecem cortadas.

Correio Braziliense

ECONOMIA
Combustíveis- Mais perto de vender petróleo
The Wall Street Journal atribui queda de 1,8% na cotação da commodity na última quinta-feira à perspectiva de que descobertas da Petrobras possam suprir o aumento do consumo no mundo
Reportagem publicada na edição de ontem do The Wall Street Journal (WSJ) diz que “uma agitação da atividade da Petrobras” está aquecendo a especulação de que o Brasil pode ter petróleo suficiente para participar das “grandes alianças de exportadores mundiais” do produto e “aliviar a pressão sobre os preços em alta”.O jornal menciona o anúncio feito na última quarta-feira pela estatal, de ter encontrado indícios de petróleo no pré-sal, bloco BM-S-8. A área está localizado a cerca de 250 quilômetros da costa do estado de São Paulo, próxima ao campo Tupi, “a maior descoberta mundial desde 2000 e a maior do Ocidente desde 1976”, lembra a publicação.
“Com os preços do petróleo atingindo novas máximas, grandes descobertas no Brasil devem aumentar o otimismo do setor de energia de que pode entregar petróleo suficiente para acompanhar a aceleração da demanda”, diz o The Wall Street Journal. Segundo a publicação, a queda de 1,8% registrada quinta-feira na cotação do petróleo na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), para US$ 130,81 o barril, pode ser atribuída “parcialmente à perspectiva de mais oferta por parte do Brasil”. As grandes descobertas no Brasil seriam especialmente bem-recebidas nos EUA, ao propiciar uma nova fonte de petróleo em seu próprio hemisfério, diz o jornal. A reportagem lembra que perfurações exploratórias em campos diferentes produziram um petróleo muito semelhante ao da descoberta anunciada na quarta-feira, alimentando uma nova teoria “perturbadora”: a de que a Bacia de Santos seria um “megadepósito contíguo de petróleo”.
Riscos
Observadores do setor disseram ao jornal que, apesar da excitação, há boas razões para ceticismo. Eles apontaram os riscos e os custos de extrair petróleo de águas ultraprofundas. “O sal que encobre os campos potenciais acrescenta desafios técnicos, porque se desloca e é propenso a súbitas mudanças de pressão”, diz a reportagem. “E a despeito dos avanços na tecnologia de imagem, é impossível saber a quantidade e a qualidade do petróleo contido numa reserva até que ele comece a jorrar — um processo que pode levar anos”, afirma o The Wall Street Journal. “Isso ainda está num estágio muito preliminar”, disse ao jornal Peter Jackson, diretor sênior da consultoria especializada Cambridge Energy Research Associates. “Num jogo desse tamanho e escala, ainda há muito de avaliação e dever de casa a fazer para estabelecer as reservas prováveis, e depois eles terão muito trabalho para distribuir isso”, afirmou.
O jornal cita a forte valorização das ações da Petrobras, que fez a empresa superar nomes como o da Microsoft em capitalização de mercado. A reportagem aponta ainda a suspensão dos leilões programados para novas concessões de exploração na Bacia de Santos após a descoberta do campo Tupi. “Alguns observadores leram isso como um sinal de que os brasileiros acreditam que a bacia está inchando de petróleo e querem melhorar os termos nos novos leilões. “O The Wall Street Journal enumerou recentes investimentos feitos pela Petrobras e lembrou a especulação gerada por declarações dadas no mês passado pelo diretor da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, segundo as quais a Bacia de Santos poderia conter 33 bilhões de barris. “Mesmo com o petróleo já descoberto, parece quase certo que o Brasil, que era importador líquido de petróleo há poucos anos, vai se juntar à Venezuela e ao México no grupo dos principais produtores de petróleo da América Latina”, diz a reportagem.
“Para um país que começa a abandonar seu passado como país de desenvolvimento volátil, essa fonte de riqueza pode ser uma bênção confusa”, afirma o The Wall Street Journal. “O dinheiro do petróleo encherá os cofres do governo mas também pode tentar o Brasil a seguir os hábitos esbanjadores de outros grandes exportadores de petróleo”, alfineta.
Correio Braziliense

MUNDO
Sucessão nos EUA-McCain vai ao ataque
Senador republicano diz que Obama não serviu às Forças Armadas, mas é criticado por ter se ausentado de votação no Congresso

A batalha verbal entre democratas e republicanos esquenta com a quase certa indicação do senador Barack Obama como candidato da oposição à presidência dos Estados Unidos. Seguro de quem será seu adversário nas eleições de 4 de novembro, o senador John McCain, ex-piloto da Marinha, lembrou ontem que o adversário não serviu às Forças Armadas e o chamou de inexperiente, principalmente em assuntos internacionais.
“Eu tenho o conhecimento e a experiência para liderar esta nação. Meu oponente não tem”, afirmou McCain durante campanha em Stockdale, na Califórnia. “Eu admiro e respeito o senador Obama. Para um homem jovem com tão pouca experiência, ele tem agido muito bem”, disse, em tom irônico, o candidato republicano. Para McCain, seus 71 anos de idade pesam sobre os 46 anos do democrata.
Um outro assunto esquentou a briga entre os dois candidatos: a lei que oferece apoio financeiro aos veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão que desejarem retomar os estudos, votada na quinta-feira no Senado americano. Os pré-candidatos democratas, Hillary Clinton e Barack Obama, interromperam a campanha para participar da votação. McCain, que é veterano, não. “Eu não entendo por que ele ficou do lado do presidente, contra essa lei. Eu não acredito que seja porque ele (McCain) pensa que é tão generoso com os nossos veteranos”, criticou o senador por Illinois.
McCain respondeu de maneira dura. “Eu não aceito do senador Obama, que não sentiu que era responsabilidade dele servir nosso país, nenhuma lição. É típico, mas não menos ofensivo que ele use o Senado para disparar contra um oponente e tirar vantagem fácil de um assunto do qual ele não entende nada”. O republicano apresentou ontem 1.173 páginas de seu histórico médico desde 2000, com o objetivo de comprovar que tem saúde suficiente para comandar o país, apesar de já ter sofrido câncer de pele em 1993, 2000 e 2002.
Obama e McCain voltam suas atenções para a Flórida, de olho no voto dos cubanos-americanos. Cerca de 1,5 milhões de cubanos vivem em território americano. A maioria rejeita Obama, que se diz a favor de um diálogo com Cuba e de se encontrar com Raúl Castro. Segundo pesquisas feitas no estado, 70% dos cubanos votariam no Partido Republicano.
O senador democrata participou de duas importantes reuniões ontem: uma foi com a influente Fundação Nacional Cubano-Americana. O senador democrata afirmou que manterá o embargo econômico à ilha, mas permitirá aos cubanos exilados mandarem mais dinheiro ao país de origem. Outro encontro importante foi com os representantes judeus em Boca Ratón. O democrata fez questão de reafirmar que não é muçulmano, que sempre se sentiu próximo do povo judeu e não negociará com os grupos Hamas e Hezbollah.
Apoio aos latinos
Algumas idéias de Barack Obama sobre as relações com o Brasil foram divulgadas ontem no documento Uma nova parceria para as Américas, divulgado pela campanha do senador por Illinois. Segundo Obama, os brasileiros são vistos como parceiros para o desenvolvimento de biocombustíveis, mas também como o principal concorrente dos produtores norte-americanos. A Amazônia é vista como “um importante recurso global na batalha contra o aquecimento do planeta”.
A intenção do democrata, de acordo com o texto, é “expandir a produção de energia renovável por toda a América Latina”.
No documento, Obama também apóia o direito da Colômbia “de atacar terroristas que buscarem santuário além de suas fronteiras”. O senador, que já declarou ser contra o tratado de livre comércio dos EUA com os colombianos, apenas opinou sobre questões de segurança. O senador apoiou a defesa do país latino-americano contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e prometeu expor “para condenação internacional e isolamento regional qualquer apoio” de uma nação vizinha à guerrilha.
Se for eleito presidente, Obama garantiu que vai negociar com toda a região, inclusive com o venezuelano Hugo Chávez, mas para pedir explicações sobre suas relações com as Farc. Em um discurso para os latinos na Flórida, Obama chamou Chávez de “demagogo” e disse que Bush está “isolando” Washington no continente.
Correio Braziliense

CIDADES
Trânsito- Reação à embriaguez ao volante
Campanha para reduzir mortes nas pistas será focada na fiscalização dos motoristas que abusam do álcool. Em cerca de 60% dos acidentes fatais, condutor havia bebido
O combate aos motoristas embriagados é o principal foco da campanha que o Departamento de Trânsito (Detran) lançou ontem para reduzir o número de mortes nas ruas da capital federal. Dirigir alcoolizado é a causa de cerca de 60% dos acidentes fatais, segundo dados do Detran. Quem tem o hábito de beber e assumir o volante deve se preparar: agentes intensificarão as blitzes, como a realizada na madrugada de quinta-feira, que flagrou oito motoristas embriagados. Um dos homens, de tão alcoolizado, não conseguiu sequer soprar no bafômetro. Mesmo sem realizar o exame, o condutor foi autuado e responderá a processo administrativo. Ele deve perder o direito de dirigir.
Em 2006, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabeleceu mecanismos para identificar condutores bêbados, sem a necessidade da realização de exames de sangue ou do teste de bafômetro. Desde então, o motorista que se recusar a fazer os testes também é autuado, com base na análise visual realizada pelos agentes de trânsito (confira arte).
“O primeiro passo é verificar se há garrafas ou latas dentro do automóvel. Além disso, a pessoa embriagada aparenta sonolência, fica com os olhos vermelhos, rubor facial, agressividade e exaltação”, explica a médica Júlia Maria Greve, em um vídeo produzido pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). A entidade colaborou com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) na elaboração da Resolução nº 206/06, que estabelece os critérios para identificar motoristas embriagados, mesmo sem a realização de testes.
Sem carteira
No momento da autuação, o agente recolhe a carteira de habilitação do motorista embriagado, caso seja feito exame ou se o fiscal entender que o condutor bebeu acima dos limites. Se houver outra pessoa apta a dirigir, o autuado pode seguir viagem no próprio carro. Senão, o veículo é levado ao depósito do Detran e o bêbado fica a pé. No primeiro dia útil seguinte à ocorrência, o condutor autuado pode recuperar o documento de habilitação no Detran. Nesse momento, é aberto um processo de suspensão do direito de dirigir, que pode acabar com a cassação da carteira do autuado.
O gerente de Fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, explica que esse processo pode demorar até seis meses. “Há três fases de recurso, para que o motorista tenha amplo direito à defesa. Se a autuação for aceita, o condutor tem a permissão de dirigir suspensa e precisa voltar à escola pública de trânsito”, explica Fonseca. De janeiro a abril deste ano, o Detran cassou 61 carteiras de habilitação de motoristas que conduziram embriagados. Mas o número de pessoas flagradas sob efeito do álcool é muito maior. Até o dia 15 de maio, 527 motoristas bêbados foram flagrados pelo Detran, durante blitzes com o uso de bafômetros.
O limite autorizado hoje por lei é de 0,6g de álcool por litro de sangue. Quando o exame é realizado com o bafômetro, o teor permitido é de 0,3mg por litro de ar expelido dos pulmões, no momento do sopro no aparelho. “Em média, as pessoas flagradas com alto teor alcoólico estão de duas a três vezes acima desse limite”, revela Silvaim Fonseca. “Orientamos os motoristas a fazerem o exame do bafômetro porque, de uma forma ou de outra, a autuação é feita”, acrescenta.
Rigor
A realização de blitz para flagrar condutores alcoolizados é defendida pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques. Especialista em trânsito, ele acredita que “a legislação brasileira é boa, é suficiente”. O que falta, segundo o professor, são mais ações de fiscalização, como a da quinta-feira. “Pode-se até reduzir o limite permitido de álcool no sangue. O Ministério da Justiça apresentou essa proposta (de diminuição de 0,6g por litro de sangue para 0,3g), mas o que falta é capacidade de fiscalização, de fato fazer valer o limite”, avalia Marques.
Além de fiscalização e punição, o professor também defende mais prevenção. “O Código Brasileiro de Trânsito (CBT) prevê que as campanhas devem ser em caráter permanente. Mas têm sido muito concentradas em feriadões, datas festivas, início de aula, início da chuva”, enumera o especialista. “Aquelas de caráter permanente para a questão álcool, do respeito aos pedestres e ciclistas, coisas desse gênero, não têm sido feitas o tempo todo”, reclama.
Para o professor, a Justiça está cumprindo seu papel ao punir com rigor e tem evoluído no entendimento sobre os crimes de trânsito. “Às vezes o indivíduo era indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar), ao invés de doloso (com intenção), e até o fato de estar alcoolizado ficava mais como atenuante do que como agravante”, lembra Paulo César Marques. “Os casos que vêm se repetindo e a exposição deles na imprensa têm mudado as punições. A Justiça tem agido com rigor.”

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